sexta-feira, 11 de setembro de 2015

À Conversa com Helena Freitas

Fomos recebidos, de forma simpática, por Helena Freitas, cabeça de lista do PS por Coimbra, no maior jardim botânico português, um jardim pombalino dentro da cidade de Coimbra.
Professora Universitária que acompanhou o doutoramento de cerca de 50 jovens, Coordenadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, hoje com mais de 150 investigadores e Directora do Jardim Botânico, agora a ser reabilitado (estufas, sinaléticas, abertura da mata à cidade, da baixa à alta), área vital para a própria dinâmica da cidade. 


Como vê a situação demográfica e actual do nosso país?
A situação demográfica do país é preocupante.  A tendência para continuarmos a perder população jovem em todo o território e em especial no interior do país, e o envelhecimento da população portuguesa, justificam outras políticas públicas. Não é fácil. Uma estratégia imediata é cultural e passa pela desconstrução da forma como encaramos o interior do país. O nosso interior é o centro da Península Ibérica. Temos de criar sinergias e dinâmicas de rede com as localidades do interior do nosso País e também de Espanha.

O ambiente pode ser uma oportunidade nestas regiões?
Sem dúvida que sim. Quando pensamos a estratégia, as parcerias e as iniciativas que se criam nestas regiões, as mesmas têm de se organizar também em torno da ecologia.
Programas de captação de jovens, e quem sabe até de imigrantes, no sector agro-florestal, do turismo, da natureza, da tecnologia por exemplo. Penso que as formas inteligentes de olhar para o território têm de ser valorizadas. Além disso temos de ver os imigrantes como uma oportunidade, trazendo-os de volta para a nossa terra. 
Outra oportunidade são os apoios dos municípios à integração de jovens nas suas regiões ou até de outros povos em projectos estratégicos para o país.
No concelho de Oliveira de Hospital tenho estado envolvida com a criação e dinamização da BLC3. O seu objectivo é maximizar os recursos que existem, naturais e humanos, trazer jovens para criarem aqui a sua profissão. Há, por isso, aqui uma grande afinidade da investigação com a floresta e agricultura da região e actividades complementares que se podem desenvolver, como o aproveitamento dos resíduos das matas ou os cogumelos. Também estive em projectos  com outras regiões, onde a tónica comum é um trabalho de articulação com diferentes parceiros.
Temos sentido no terreno a perda na administração pública de muitos recursos técnicos, nomeadamente na agricultura e floresta. Há uma necessidade de reunir em centros de competência a actividade que a administração precisa.
Temos de trabalhar mais na organização do território, em estratégias inteligentes para as regiões, envolvida nas políticas regionais, na valorização dos recursos naturais. Um dos objectivos terá de ser o investimento de fundos públicos, no ordenamento da floresta, no ordenamento do território.

Porque se envolveu de forma tão activa nesta campanha eleitoral?
Desde sempre tive uma intervenção cívica activa no domínio do ambiente e da Conservação da Natureza. Entendo que a situação actual complicada do País nos convoca a todos, na medida da disponibilidade de cada um, e senti-me convocada e mobilizada face ao desafio que António Costa me fez, para a primeira causa enquanto cidadã(o), que é o progresso do país.

Para a região Centro, quais os temas principais que traz para a campanha? 
Trago as áreas nas quais tenho estado envolvida no meu percurso profissional e cívico: Educação, Ciência e Ecologia na Região de Coimbra. A região Centro tem na Natureza um dos seus fortes activos. Lembremos também o mar e a aquacultura, que o país tem de apostar. Depois a questão da mobilidade. As ligações ferroviárias têm de sofrer uma melhoria, têm de ser uma pedra de toque fundamental, para o desenvolvimento do Distrito de Coimbra, não apenas por questões ambientais, mas acima de tudo como soluções estruturantes para a valorização do território.

Como a preocupação pela biodiversidade pode ser sentida numa cidade?
A figura do orçamento participativo pode ser aqui relevante. Isso permitiria olharmos para os espaços públicos pelas suas diferentes funções: enquanto uma mata poder ter como objectivo o sequestro de carbono, outra mata ou um jardim o importante pode ser o recreio, com baixas necessidades de rega. A selecção das árvores, do tipo de plantas deverá ter em atenção estas particularidades. As pessoas cada vez mais reivindicam espaços de lazer mas não têm noção do que isso representa para o erário público. A percepção do custo tem de ser dada. O Estado tem de ser cada vez mais transparente. Aliado a isto, os programas de monitorização são essenciais. Se não acompanharmos a monitorização e se não for eficaz, dificilmente conseguiremos ser efectivos.

E ao nível dos serviços de ecossistema? É aí que vamos juntar a conservação da Natureza e a economia?
Este governo esqueceu-se da conservação da Natureza. Tem sido uma área TABU. Fala-se hoje em economia da Natureza. Concordo que seja importante valorizar aquilo que as áreas naturais podem oferecer, mas depois há todo um trabalho para fazer: o de as manter e envolvendo a população.
Este governo deixou de falar dos serviços de ecossistemas, deixou de falar dos ecossistemas. As políticas públicas falam em venda de produtos das áreas protegidas unicamente. A economia da água, a qualidade do ar, a decomposição do solo, não são falados nem sequer apoiados.

Também ao nível da política energética, uma bandeira muito positiva do passado socialista, com reconhecido mérito internacional, numa primeira fase, este governo não teve força necessária para agarrar este tema, indo agora a coligação na sua comunicação recuperá-lo para anunciar como medidas propostas.

Como é que as secções podem contribuir positivamente na campanha?
Secções temáticas como a de Ambiente e Território do PS podem dar um contributo positivo também pela reflexão e criação de propostas, por exemplo ao nível da privatização da água. O combate creio ser uma das bandeiras inequívocas que o partido socialista deve esgrimir.
Depois creio que devem apresentar aquilo que é positivo, aquilo que podemos fazer de forma diferente. Conservar a Natureza é valorizar aquilo que o país tem por garantido.

O que a mobiliza?
Tenho a percepção que o meu país está profundamente desigual. O conhecimento que a vida me proporcionou fazem-me acolher o chamamento colectivo que tornem o meu país mais igual. Não podemos continuar a ter um número crescente de famílias a pedir alimentos, de pessoas a deslocarem-se aos hospitais privados, de jovens a procurarem alternativas. O país está a ser continuamente privatizado, com outros interesses a governar e por este motivo estou disponível para pensar e agir para manter a justiça e a equidade do país.


Porque escolheu ser ecóloga?
Todos temos causas que nos mobilizam, em que investimos a razão e os afectos e tentamos convencer os outros da bondade dessas causas. A extinção de algumas espécies e a vulnerabilidade de outras cuja complexidade é um notável brinde da evolução, confronta-nos diariamente com a nossa própria impotência e com a angústia de uma Humanidade desajustada do seu próprio planeta, da sua casa. Eu escolhi a conservação da natureza: o desafio ambiental e político mais complexo e decisivo para o futuro da Humanidade. 


Sem comentários:

Enviar um comentário