quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Boas Festas

Durante este mês de dezembro, o foco mundial virou-se para as alterações climáticas, no decurso da Cimeira de Paris. Sucesso obtido com o acordo mundial alcançado. Infelizmente, foram também notícia focos graves de poluição atmosférica e de fenómenos climáticos extremos. Por um lado, causando o cancelamento das viagens aéreas em Pequim ou os jogos no Irão, pela péssima qualidade do ar local, por outro, os mais de dois mil milhões de euros de danos (estimativas no pior cenário possível) no Reino Unido, atingido pelas maiores cheias das últimas décadas.
Os impactes graves a nível social e económico são agora mais evidenciados. Urge a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases com efeito de estufa, mas também de adaptação às alterações climáticas. De facto, mesmo que a Cimeira de Paris tivesse levado a uma paragem das emissões, os efeitos continuariam a sentir-se durante vários anos.

No clima ou na poluição atmosférica, muitas são as possibilidades de acção, individual e colectiva. 
Seis meses volvidos do nosso desafio para novos compromissos individuais pelo Ambiente, e numa perspectiva de balanço de final do ano de 2015, o que conseguimos cumprir? Quais os obstáculos? 
Abracemos 2016 com esperança e confiança. Esperança para uma melhor qualidade de vida, com menor poluição e melhor eficiência energética. Confiança em conseguirmos fazer parte da solução. 
Quer seja na escolha da forma como nos deslocamos, como nos alimentamos ou no tipo de equipamentos que adquirimos, alugamos ou partilhamos, o desafio para 2016 é reduzirmos a nossa pegada, mantendo uma boa qualidade de vida.
Boas festas

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

"As Crianças e o Direito e ter Direitos", no Dia internacional dos Direitos Humanos



Para assinalar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, convidámos Susana Amador a contribuir com uma reflexão sobre o tema, que aqui partilhamos. 

Curiosidades: A data foi instituída em 1950, dois anos após a Organização das Nações Unidas (ONU) adotar a Declaração Universal do Direitos Humanos como marco legal regulador das relações entre governos e pessoas. Nesta declaração  estão descritos os direitos básicos que garantem uma vida digna para todos os habitantes do mundo (liberdade, educação, saúde, cultura, informação, alimentação e moradia adequadas, respeito, não-discriminação, entre outros). 

A declaração é, nesse sentido, um marco normativo que serve de guia para as condutas de governos e cidadãos. 

A garantia efetiva dos direitos humanos – a todos os povos e nações – requer vigilância contínua e participação coletiva. Uma data para reivindicarmos ações concretas de todos os Estados para o cumprimento dos compromissos assumidos com a garantia dos direitos civis, políticos, sociais e ambientais.


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AS CRIANÇAS E O “DIREITO A TER DIREITOS”
 “Podemos nunca vir a saber que resultados produz a nossa ação. Mas, se nada fizermos, não haverá resultados”.
Mahatma  Gandhi,
  
A abordagem Internacional às crianças tem vindo a mudar. A ideia de que as crianças têm especiais necessidades, deu lugar à convicção que as crianças têm direitos e o mesmo catálogo de Direitos civis, políticos, sociais, culturais e económicos que os adultos.


A proteção é um dos objetivos fundamentais dos direitos humanos e do direito humanitário em geral, mas é seguramente também uma realidade que ganha importância acrescida quando considerada em relação a pessoas particularmente vulneráveis, como as crianças.

Espera-se que todos os membros da sociedade possam aderir de forma crescente á Agenda dos Direitos da Criança para o Século XXI, aprovada pela ONU num movimento mundial que contribua para a criação de um mundo apropriado para as crianças, subscrevendo os seguintes princípios e objetivos:

-          Colocar as crianças em 1º lugar em estrito cumprimento da regra do melhor interesse da criança;
-          Erradicar a pobreza, rompendo o ciclo de pobreza numa só geração;
-          Não permitir que nenhuma criança seja discriminada;
-          Cuidar de todas as crianças;
-          Educar todas as crianças;
-          Proteger as crianças da violência e da exploração;
-          Lutar contra o VIH/Sida;
-          Assegurar o princípio da participação;
-          Proteger a terra para as crianças, defendendo o nosso meio ambiente natural com a sua diversidade biológica, belezas e recursos que melhorem a qualidade de vida para as gerações atuais e futuras;
-          Proteger as crianças da guerra.

A exaltação dos Direitos da Criança tem vindo a ser feita de forma paulatina, comparada com a necessidade urgente para que ainda hoje milhões de crianças nos interpelam em todo o mundo.

As crianças têm sido ao longo dos séculos o rosto visível dos impactos devastadores das guerras, da fome, do tráfico humano e da violação sistemática aos seus mais elementares direitos humanos.

O tráfico de crianças, onde quer que aconteça, é uma terrível e intolerável violação dos seus direitos fundamentais a um crescimento saudável, à integridade física, á liberdade, á vida!

Cada um dos Estados envolvidos, como país de origem, de trânsito ou de destino, mas também as instâncias internacionais, devem procurar urgentemente formas de ação mais consequentes.

A crise atual dos Refugiados tem revelado à exaustão os dramas que as crianças enfrentam, muitas vezes perdendo a sua vida em longas travessias marítimas, terrestres ou no decurso de conflitos armados.
Na verdade mais de metade dos 40 milhões de refugiados do mundo são mulheres e crianças.

A relação final entre os Direitos Humanos e os problemas dos refugiados reside na formulação e adoção de soluções duradouras. Enquanto existirem violações dos Direitos Humanos nos países de origem, duvida-se que algum refugiado decida regressar voluntariamente. Assim, o restabelecimento do respeito por todas as categorias de direitos e a promoção dos mesmos, assim como o fim dos violentos conflitos nos países de origem, são condições necessárias para que se realize o regresso voluntário. Afinal, tudo começa com a violação de um ou mais direitos e tudo pode cessar com o restabelecimento desse direito, daí que a prevenção dos conflitos, a supervisão internacional permanente, a condenação das violações perpetradas e a assistência ao desenvolvimento sejam determinantes.

Portugal, enquanto membro do Conselho da Europa e Estado signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança, tem também especiais responsabilidades quanto aos seus direitos e proteção adequada. O nosso ordenamento jurídico reflete obviamente tal proteção.

Assim, o artigo 69º da Constituição consagra o direito das crianças à proteção, impondo-se os correlativos deveres de prestação ou de atividade ao Estado e à sociedade. Este direito poderá justificar medidas especiais de compensação, sobretudo em relação às crianças em determinadas situações.

Infelizmente, nos últimos quatro anos, na sequência de uma deriva de direita e das políticas recessivas implementadas pelo PSD/CDS, as crianças portuguesas foram o rosto da crise. Com efeito, segundo os mais recentes dados do INE/Eurostat temos 850 mil crianças e jovens em situação de pobreza ou exclusão social. Por cada mês que a coligação PAF governava caiam na pobreza ou exclusão social 7 mil pessoas, das quais 2 mil são crianças e jovens.

O efetivo exercício dos direitos enunciados na Convenção dos Direitos da Criança, requer a firme convicção de traduzir progressivamente o que se encontra contemplado nas normas jurídicas, em práticas sociais e políticas públicas que assentem na promoção da igualdade de oportunidades e no desenvolvimento integral de todas as crianças e jovens, garantindo um exercício da cidadania, cada vez mais pleno. O edifício legislativo internacional, europeu e nacional está construído, carece de aperfeiçoamentos e urge fazê-lo cumprir...Trata-se de um imperativo ético indeclinável e todos nós somos responsáveis por esta impunidade e continuada violação aos Direitos das Crianças e por uma ainda não efetiva cultura de infância.

Susana Amador
Deputada à Assembleia da República/Ex Consultora do ACNUR